terça-feira, 3 de setembro de 2013


Com a simplicidade de um cidadão do interior, nascido e criado sob os regimes severos de uma família de cinco irmãos. Nasceu em Ibiporã, no dia 27 de fevereiro de 1955, o filho do saudoso Mário Caetano, ou "Marião Preto" como era conhecido. O garoto magro, de pernas finas e esguias chutava lata, pedra e corria atrás de um objetivo: Queria ser pintor! Pintos? Não que a profissão não seria a pior, mas era modesto no que almejava.

O destino mudou sua vida ainda na infância quando viu uns garotos brincando com uma bola velha, toda desajeitada, costurada com papel e plástico no lugar da câmara de ar. Sua paixão de infância abria uma porta que nem ele mesmo sabia que era a porta do mundo!

Jogar futebol é muito fácil, ser um atleta profissional é muito difícil. Assim Marinho, Mário Caetano Filho define sua profissão. Hoje, aposentado da bola, mas ligado no mundo esportivo Marinho conta com alegria tudo que passou no futebol do Paraná, de São Paulo e do Rio de Janeiro onde é um dos maiores ídolos do Flamengo.

Neste livro quero contar e deixar cravado na história do futebol a carreira desse grande amigo e um grande cidadão londrinense e paranaense. Escrever a história do Marinho é um grande prazer, pois ouvi tantos relatos que resolvi deixar na história mais esse registro de uma carreira de grande sucesso e de grandes conquistas. Aqui também teremos relatos de grandes jogadores, dirigentes e jornalistas que viram Marinho em campo. A história de Mario Caetano Filho vai emocionar, relembrar, reconquistar o carinho e a paixão de uma nação de torcedores começando pelo nosso Tubarão, até o seu maior título para os flamenguistas de todo mundo. 

O COMEÇO NINGUÉM ESQUECE

Marinho nasceu em Londrina, em uma família simples, pobre e de cinco filhos. Logo nos primeiros anos de vida demonstrava vontade de trabalhar e ajudar os pais. Começou na roça, fazendo muitos serviços, entre eles alguns que ele não gostava muitos como colher algodão. "Trabalhar na colheita do algodão é muito cansativo. Quando acordava ás cinco da manhã para ir ao trabalho Marinho já pensava no seu futuro e sempre teve um objetivo de ir trabalhar para ajudar a família e depois tentar a sua sorte na vida. Aos oito ano de idade ajudava o pai no corte de  cana, para poder comer. A família era composta de cinco filhos, "Seo" Mário Preto já jogava sua bola naquela época e era um dos melhores zagueiros do futebol amador.

Foi no Canindé da Vila Yara que Marinho começou a dar seus primeiros passos no futebol. O time disputava jogos amistosos na categoria infantil e depois passou a jogar as competições da Liga de futebol nos anos 70. Quando completou 16 anos, Marinho queria assistir aos jogos do Londrina e passou a ir ao Estádio Vitorino Gonçalves Dias, o VGD, para atuar como gandula nos treinos e nos jogos do time profissional. Certo dia, os dirigentes do Londrina o convidaram para atuar como zagueiro do time juvenil. Foi o momento que Marinho esperava e rapidamente abraçou aquela oportunidade de servir o time do Londrina, que naquele tempo era muito forte e muito respeitado no Paraná.

Em 1973 Marinho jogou na equipe juvenil e ganhou a chance de subir para o time principal em 1974, quando iniciou a carreira profissional.








Nos primeiros treinos e jogos já despertava a atenção de dirigentes e torcedores como uma promessa do clube, que iniciava uma estruturação para buscar nome no cenário nacional. O clube tinha apenas 18 anos de fundação e a cidade cobrava uma equipe forte para o campeonato brasileiro. Marinho foi apontado como um jogador de futuro e que o Londrina poderia revelar e vendê-lo para um grande clube do futebol brasileiro. Foram quatro anos no Londrina, sendo 3 como profissional nesse período, jogando com grandes jogadores em uma época que poucos jogadores se cuidavam e a boemia imperava em todos os clubes do Brasil.

(relato) 

Em 1977 vem a grande chance para Marinho, que foi emprestado ao São Paulo Futebol Clube, na primeira transferência para o primeiro clube e primeiro título de campeão brasileiro de 1977.

(Relato)

Em 1978, Marinho retornou à Londrina e novamente continuou sendo o destaque da equipe, com suas belas arrancadas e os seus gols de cabeça. No campeonato brasileiro de 1978, marcou 6 gols e em 1979 anotou 7 gols atuando como zagueiro e isso chamou a atenção de outros clubes.

(Relato)


A Revista Placar destacou uma reportagem das belas campanhas dos clubes do Norte do Paraná e o Brasil conheceu a Seleção do Estado que tinha somente jogadores do Grêmio de Esportes Maringá e do Londrina Esporte Clube, chamada se Londringá, onde Marinho era o grande destaque. Foi então que o Flamengo fez uma proposta irrecusável e o Londrina vendeu o passe do zagueiro para o rubro negro carioca. Foi e é até hoje a maior transferência já realizada pelo Londrina EC, que ficou com 5 milhões de Cruzeiros na época, aproximadamente

(Relato)


  
Nos anos de 1978 e 1979, Marinho continuou em destaque atuando pelo Londrina EC, sua técnica e qualidade de fazer gols eram suas principais características. Embora atuando como zagueiro, em 1978 Marinho antou 6 gols, e em 1979 foram 7 gols no Campeonato Brasileiro, qualidades que chamou a atenção de Cláudio Coutinho entao técnico do Flamengo, e com isso, sua transferência passou a ser prioridade para o Flamengo de Zico.














Marinho é ate hoje a maior transferência realizada no Estado do Paraná, fazendo assim encher os cofres do Londrina EC. Já no Flamengo, aonde jogou de 1980 a 1984, Marinho fez muito sucesso. Sua estreia se deu em uma partida amistosa, contra o São Paulo, seu ex-clube, terminando em um empate sem gols. Marinho jogou ao lado de grandes craques, como Zico, Júnior e Leandro, entre tantos outros, que se sagraram campeões da Taça Libertadores da América e do Mundial Interclubes de 1981.
















Na terceira e decisiva partida contra o Cobreloa, na final  Copa Libertadores de 1981, Marinho formou zaga com Mozer, quando o Flamengo venceu por 2 x 0 e ficou com o tão sonhado título de campeão do continente americano. Três semanas mais tarde, a mesma zaga se repetiria na vitória contra o Liverpool, elevando o clube rubro-negro à condição de Campeão Mundial. Pelo Flamengo, Marinho também participou de varias conquistas pelo Flamengo, tendo destaques os Campeonatos Brasileiros de 1980, 82 e 83.  Marinho atuou pela Seleção Brasileira em 1983 sobre o comando de Carlos Alberto Parreira, nos amistosos contra o Chile e Seleção Gaúcha.

















Após sua passagem marcante no Flamengo, Marinho ainda jogou no Atlético Mineiro. Em 1990 voltou ao Flamengo para um jogo de despedida e finalmente, em 1992, encerrou sua carreira no Londrina, aos 37 anos de idade. Tendo assim encerrado sua brilhante e vitoriosa carreira.
 
"O gol mais bonito da minha carreira foi o que fiz em um Londrina x Grêmio Maringá, em 1977. Arranquei da meia-lua e fui até o gol adversário. Realmente foi um golaço", lembra o ex-zagueiro.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na Gávea, Marinho fez parte de um excelente time que tinha a seguinte formação, em 1982: Raul, Leandro, Marinho, Figueiredo e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Sinto muita falta da galera do Mengão. Aquilo não existe! Até hoje, quando vou ao Maracanã, sou reconhecido", recorda o orgulhoso Marinho.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Com a camisa rubro-negra, Marinho fez 218 jogos (123 vitórias, 57 empates, 38 derrotas) e marcou um único gol, contra o Atlético Mineiro, na primeira fase da Libertadores de 1981. "Se perdêssemos, estaríamos eliminados. Marquei no finzinho, de cabeça, e empatei a partida(2x2)", revela Marinho.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ele ficou na Gávea de 1980 a 84 e ajudou o Fla em importantes conquistas. "Foram muitos títulos pelo Flamengo. Ganhamos o Carioca de 81, três Brasileiros (1980, 82 e 83), além da Libertadores e do Mundial, em 1981. Mas a partida que não me sai da cabeça é aquela contra o Atlético (MG), na final do Brasileiro de 80. Eles tinham um timaço, vencemos por 3 a 2, mas quase sofremos o empate no fim. Foi um jogão?, relembra com saudades o ex-zagueiro.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Marinho também atuou pelo São Paulo. Foi reserva no Morumbi durante quase um ano. Sua passagem pelo Tricolor foi em 1977, anterior à sua presença marcante na Gávea. Com a camisa são-paulina, Marinho atuou em apenas cinco partidas (2 vitórias, 2 empates, 1 derrota), não marcou nenhum gol, mas fez parte do grupo que conquistou o Brasileirão daquele ano.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antes de encerrar a carreira atuou em equipes de menor expressão, como Arapongas, Umuarama e Galo Bravo, de Centenário do Sul (PR).
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Casado com Dona Ilza, Marinho tem dois filhos: Rebecca e Mário Caetano Neto, o Neto, que faz parte do elenco profissional do Londrina EC, também atuando como zagueiro.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Somos uma família de boleiros. Eu era pintor antes de virar jogador e disse para minha mãe, Dona Maria Dourada (já falecida), que ela ainda iria me ver jogando no Maracanã. Ela me olhou meio desconfiada, mas não deu outra?, lembra o sorridente Marinho, que é irmão do falecido goleiro Mauro, do Londrina EC (Mauro disputou a épica partida em que o Tubarão venceu o Vasco por 2 a 0 - gols de Carlos Alberto Garcia e Brandão -, em São Januário, no maior público que o estádio já recebeu).
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como um bom ex-boleiro, Marinho guarda ainda algumas relíquias, como a medalha de campeão do mundo pelo Fla e camisas de equipes como Juventus (trocada com Cabrini, campeão do mundo pela seleção italiana, em 82) e Milan (conseguida com ninguém menos do que Franco Baresi). "Mas meu xodó mesmo é a camisa 3 que usei no Flamengo, com malha toda furadinha. Essa não vendo nem por um milhão", dispara o ex-zagueiro.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Marinho estreou no Flamengo num amistoso contra o São Paulo, em 1980, ajudando a garantir o empate de 0 a 0. Mostrando uma grande capacidade de antecipar-se ao adversário e roubando-lhes a bola com surpreendente habilidade, fez exatamente aquilo que havia chamado a atenção do técnico Cláudio Coutinho após o jogo entre Mengão e Londrina pelo Brasileiro de 1979.





















Alto e magro, Marinho era às vezes desengonçado, o que levou a muitos duvidarem de sua capacidade. Com o tempo virou titular, ganhando confiança para se arriscar no ataque, chegando de trás em alta velocidade para deixar os companheiros na cara do gol. E como não poderia deixar de ser, é super identificado com a Nação. "Sinto muita falta da galera do Mengão. Aquilo não existe! Até hoje sou reconhecido". Sempre será reconhecido e admirado por todos nós!


De acordo com a Flapédia, Marinho fez 219 jogos pelo Mengão, marcando 6 gols. O mais importante desses gols foi contra o Patético-MG, na primeira fase da Libertadores de 81, onde o Mengão não poderia perder, pois seria eliminado. Marinho marcou de cabeça no final do jogo, garantindo o empate em 2x2 e a nossa classificação!

Foi Campeão Carioca em 1981, Brasileiro em 1980/82/83, da Libertadores e do Mundial em 1981. Teve uma passagem pela outra seleção (a brasileira) em 1983. Em 1984, começou a perder espaço no time, com a chegada de alguns jogadores dos juniores, como Figueiredo, com a confirmação de Mozer e o deslocamento de Leandro para a zaga. Com a forte concorrência, preferiu deixar o clube indo para o Patético-MG e depois para o Buátafogo.


Retirado do Blog FlaManolos. Leia mais: http://flamanolos.blogspot.com/2011/11/herois-do-mundial-marinho.html#ixzz3Pjs2x1F8

 

 28/4/1983
Brasil 3 x 2 Chile
Tipo: Oficial amistoso
Local: Estádio do Maracanã
Cidade: Rio de Janeiro
Árbitro: G. Gonzales (Paraguai)
Técnico: Carlos Alberto Parreira
Brasil: Leão, Leandro, Marinho, Márcio Rossini e Júnior (Pedrinho); Batista e Sócrates; Tita (Paulo Isidoro), Zico (Renato), Careca e Éder (João Paulo).
Gols: Careca, Éder e Renato.

 

 

Títulos

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sexta-feira, 29 de maio de 2009

JORGE SCAFF: O LEGADO DE UM ARTILHEIRO



Jorge Scaff nasceu na cidade de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul no dia 07 de Dezembro de 1929. É um futebolista e ex-político. Foi jogador e técnico de futebol profissional do Britânia de Curitiba e Clube Atlético Paranaense, mas foi no Londrina Esporte Clube que teve grande destaque, sendo o técnico que mais vezes comandou o Tubarão em campo.

Jorge Scaff foi presidente do Grêmio Literário e Recreativo Londrinense, durante 23 anos. Também teve atuação intensa na política, passando pelos cargos de vereador, presidente da Câmara Municipal e prefeito.


A VIDA E A HISTÓRIA DE JORGE SCAFF

O menino de Rio Brilhante, virou homem, pai e avô em Londrina! E este ano vai comemorar seu 80º. aniversário! Oito décadas, muito bem vividas! O jovem Jorge Scaff chegou ao município de Londrina em 1946, vindo de Aquidauana, Mato Grosso do Sul, trouxe o sonho de estudar e trabalhar. Apaixonado pelo esporte e pelo futebol, Scaff foi logo procurando um “jeitinho” de arrumar um time de futebol para bater sua bolinha. Aos 16 anos, começa uma vida nova em Londrina.

1946 - O PAI VEM PARA MARÍLIA!
“Corria o ano de 1946. Meu pai viajou de Aquidauana, Mato Grosso do Sul, para Marília, interior de São Paulo. A intenção era comprar uma casa em Marília e trabalhar por lá. Passou por Londrina na ida para Marília e na volta não teve dúvida, foi aqui que resolveu ficar! Estou em Londrina há 64 anos”. disse "seu" Jorge Scaff.

Jorge Scaff nasceu em 07 de dezembro de 1929, na cidade de Rio Brilhante, MS e completará este ano 80 anos de idade. Sua vida e sua história são marcadas pelo esporte, principalmente pelo futebol. "Seu" Jorge chega aos 80 anos com muita saúde, ótima memória e grandes recordações! Lembranças fantásticas dos tempos antigos do futebol amador e profissional de Londrina. É casado com Dona Nadir Consolin Scaff e pai de Sérgio Consolin Scaff (in memorian) e Fernando Scaff.

"Seu" Jorge ou Jorginho como é muito conhecido, foi balconista, comerciário, gerente de loja, fiscal da receita, atleta amador, técnico amador, atleta profissional e técnico profissional. Foi diretor de clube, diretor de futebol, presidente de clube, comentarista de rádio, vereador e prefeito de Londrina. Jorge Scaff foi muito mais! Além de torcedor fanático do Londrina Esporte Clube e do São Paulo Futebol Clube, é um apaixonado pela cidade de Londrina! Aqui conheceu e casou-se com dona Nadir Consolin Scaff. Teve dois filhos: Sérgio Consolin Scaff, (falecido em 2006, devido a um câncer) e Fernando Scaff, od dois formados em Odontologia. Tem três netos, o advogado João Henrique 24 anos, que formou-se este ano e Luis Gustavo de 19 anos, que cursa o 3º. ano de direito, filhos de Sérgio e Cláudia Maria. O neto caçula é um futuro craque de futebol. Felipe, filho de Fernando Scaff e Karla tem 5 anos, corinthiano para contrariar o avô, mas muito parecido com o avô no gosto e no jeito para o futebol. Felipe é um dos destaques das equipes menores do Londrina Country Club.

A CHEGADA À LONDRINA
Seu Jamil Scaff e dona Rachidi Scaff chegaram em Londrina com cinco filhos: José, Jorge, Jacy, Dinalva e João Scaff. Em 1946 Londrina “borbulhava” com a chegada de migrantes de todos os Estados, principalmente interior de São Paulo e de Minas Gerais. Neste ano foi criada a Faculdade Estadual de Direito de Londrina e começava a construção da Rede Ferroviária Federal que ligava Londrina à São Paulo. A cidade recebia gente de todos os locais, trabalhadores que buscavam oportunidades na rica região do café.


Jorge Scaff com 16 anos era o segundo filho do seu Jamil. “O José era o mais velho, depois vinha eu, o Jacy, a Dinalva e o João, o mais moço. Aqui era tudo cafezal, por todo lado tinha gente abrindo mais. A companhia de terras vendia terra todo dia. Eu consegui um emprego nas Casas Fuganti, que ficava ali onde é hoje o edifício Julio Fuganti, na avenida Celso Garcia Cid. Foi lá meu primeiro emprego. Eu trabalhava bem na frente da prefeitura, naquela época a prefeitura era al ao lado da ACIL, onde tem hoje a agência do Bradesco. Ficava ali a Câmara de vereadores e a prefeitura".

Sentado à mesa, na copa do apartamento onde mora na Rua prefeito Hugo Cabral, no centro da cidade, "seu" Jorge emociona-se quando vou perguntando sobre os primeiros anos em Londrina. Sobre a família e como foram os primeiros passos na vida aqui na cidade. Com os olhos brilhando, ele confessa que o tempo passa muito rápido. "Ontem vi tudo começar e hoje já estou com 80 anos. Nossa estou ficando velho", brincou "seu" Jorge, tentando disfarçar a emoção.
Em certo momento Jorge Scaff deixou escapar a profunda saudade que sente da mãe e mostrou uma foto com a família. A avó, a mãe, a irmã Dinalva e a sobrinha, filha de Dinalva. "Nossa, olha só essa foto? Aqui estão quatro gerações", com voz embargada, Jorge Scaff mostrou-me uma foto muito bonita, de 1972, em uma reunião de família. O tempo passou rápido para seu Jorge. Nos tempos de garoto e das partidas de futebol aos domingos, dos campos do esporte, do operário, onde é hoje o VGD, dos almanaques de figurinhas e das tardes de domingo quando o Londrina entrava em campo. Seu Jorge não esqueçe de nenhum detalhe antigo, nem das escalações dos times que jogou, mas as vezes tropeça nos momentos atuais. "É Xará, é uma vida. O tempo passa muito rápido. Já vou fazer oitenta anos e não aprendi a conviver com essa rapidez, as vezes penso que ainda estou passando dos cinquenta e derepente eu mesmo me respondo, já estou chegando aos oitenta", conta Scaff.

O COMEÇO NO FUTEBOL DE LONDRINA

Naquele tempo muitos times de futebol estavam sendo formados na cidade e o VGD era um campinho utilizado pelos funcionários da Cerâmica Mortari e times de futebol amador de Londrina, como o antigo Operário, que realizavam seus jogos. A Prefeitura Municipal construiu a primeira parte das arquibancadas do novo estádio municipal neste campinho e deu nome de Estádio Capitão Aquiles Pimpão. Somente em 1954 que passou a ter o nome do professor Vitorino Gonçalves Dias. O VGD foi construído iniciado na administração do Prefeito Antônio Fernandes Sobrinho e terminou na do prefeito Dalton Paranaguá. Nesta época já existia o Nacional de Rolândia e o Lavoura de Arapongas, o Minerva, Operário, Fuganti e muitos outros de Londrina. Nas tardes de domingo, grande número de pessoas ia aos campos, vibravam e aplaudiam calorosamente os nossos primeiros boleiros da cidade.

Outro campo de terra batida, cercado com tábuas de peroba, ficava na quadra compreendida pelas ruas Uruguai e São Jerônimo e Avenidas Celso Garcia Cid e Jorge Casoni também foi palco de muitos jogos. Gente de todo jeito e lugar dentro e fora do campo. Os torcedores se viravam para ver o jogo. Muitas equipes amadoras londrinenses jogaram no Campo do Esporte, entre elas, o Operário, o São Paulo, Sete de Setembro, Bandeirantes, Nakashi, Municipal, Regina, Associação, Atlético, Transpararaná, Dalva, Fuganti, Bancários e muitas outras. No Campo do Esporte passaram grandes jogadores do futebol amador de Londrina como Caio, Toninho Macaco, Comida, Neu, Jorge Scaff, Nelito e tantos mais e tantos outros. "Com habilidade e amor à camisa, a gente jogava contra as boas equipes daquele tempo, de grandes craques do passado. Dava gosto de ver o entusiasmo que reinava entre as torcidas", disse Jorge Scaff.
Em 1948, seu Jorge Scaff disputou o campeonato paranaense de profissionais pela Sociedade Esportiva Fuganti de Londrina. "Nossa equipe chegou a final da Chave Norte, fazendo a decisão com a Esportiva de Jacarezinho e foi vice-campeã do Norte. Foi um orgulho para todos nós, por que ninguém ganhava nada. Era amor a camisa e vontade de jogar futebol”, diz Jorge Scaff.

O AMISTOSO COM O PALMEIRAS


Jorge Scaff montou a primeira equipe nas Casas Fuganti. "Eu trabalhava lá onde tinha de tudo. Secos e molhados, até jóias, ferramentas de todo tipo. Reuni os funcionários e amigos e fundamos o time das casa Fuganti. Foi lá que comecei a ser treinador e jogador. Durante 10 anos joguei no Fuganti. Todos os domingos tinha jogo, e ai de mim senão marcasse jogo para o domingo, a chiadeira era geral!", afirmou

Mas foi no Operário de Londrina que Jorge Scaff disputou o primeiro campeonato amador de cidade.

A equipe era semi profissional e disputava as competições do Norte. "Nosso time era muito forte, mas o grupo treinava pouco, pois todos trabalhavam no comércio, na prefeitura, na lavoura. Nos reuníamos mais nos dias de jogos mesmo. Nosso presidente era o "seu" Jacob Bartolomeu Minatti. Um palmeirense "doente", e o "seu" Jacob queria trazer o Palmeiras para um amistoso contra nosso time, o Operário. Falei que não dava, era um time muito forte e não tínhamos condições de enfrentar o Palmeiras. "Seu" Jocob não quis saber! Ele tinha muito dinheiro e queria o jogo com o Palmeiras.

Isso foi em 1947 e enfim chegou o grande dia do jogo. A cidade de Londrina estava em polvorosa! Comentários por toda a região. Em Londrina, Operário x Plameiras, um grande acontecimento para a cidade. O VGD ficou lotado, puseram cadeira de pista, pois todos os ingressos de arquibancadas foram vendidos. Um sucesso, mas nosso time estava morrendo de medo de sofrer uma goleada. O Palmeiras chegou ao VGD com força máxima! Entrou em campo com Oberdan Catani no gol, Lima, Canhotinho, Waldemar Fiúme, Jenko, Gonzales e outras feras. O jogo foi bastante equilibrado, 10 a 1 prá eles", brincou seu Jorge, já descontraído. Ele foi o técnico e o atacante do Operário.

Quando perguntei ao "seu" Jorge Scaff sobre o Londrina nesta época ele contou que o clube ainda não existia. Só seria fundado nove anos mais tarde, em 5 de abril de 1956. Mesmo assim, Jorge Scaff demonstrou que sua memória está infalível e relatou como o Londrina foi criado.

NAKASHI ESPORTE CLUBE
Jorge Scaff defendeu também em Londrina a boa equipe do Nakashi EC. Um time amador, mas que fazia frente para os grandes do seu tempo.
Foi no Nakashi mais uma vez que Jorge Scaff seria técnico e jogador. Líder e com grande respeito dos companheiros, "seu" Jorge escalava, dava as ordens e jogava no ataque. Foi com espírito de liderança e conhecimento que ganhou de todos o carinho e o respeito. "As vezes eu cobrava na frente dos companheiros de mim mesmo! Eu falava que não estava bem e iria melhorar em várias situações e o diálogo prevalecia no vestiário", confessa Jorge.

Em 1953 e meados de 54, Jorge Scaff defendeu o São Paulo FC de Londrina, time que durante anos disputou o estadual e fazia frente aos grandes da capital. Foi em uma partida contra o Corotiba no VGD que Jorge Scaff fciou ainda mais conhecido pelos curitibanos. O jogo terminou 1 x 1 com gol de Jorge Scaff para o São Paulo. "Naquele dia o Coritib entrou em campo com um timaço. Tinha Carazai, Hamilton, Adão, Bequinha, Guimarães; Duílio, Miltinho, Ivo e Fedatto; Willian e Ronald. Emaptamos em um a um eeu fiz o gol do São Paulo", conta Scaff.

Como Jorge Scaff faturou vários títulos de campeão amador de Londrina com os timaços das Casas Fuganti, do Nakashi, jogou pelo Operário e pelo São Paulo, mas nunca deixou de trabalhar. Então veio o convite da família Nakashi para ser o gerente da empresa em Curitiba. "A família Nakashi tinha grande confiança no meu trabalho e na minha pessoa. O Antônio, na verdade era Matsujo Nakatsukaza e a gente chamava ele de Antonio, por que não dava para pronunciar o nome dele, era uma pessoa sensacional e gostava muito de futebol. A gente não ganhava nada para jogar, jogava por amor mesmo! Enfrentamos as equipes dos Bancários, São Paulo, Fuganti, Atlético Londrinense, Vila Casone e muitas outras boas equipes do amadorismo daqueles tempos. Foi um tempo muito bom, onde jogar futebol era uma alegria e não víamos o domingo chegar para nos reunirmos e nos divertirmos novamente".

Mas, em 1954, Antonio Nakashi inaugurou em Curitiba a Retifica Nakashi e conseguiu levar "seu" Jorge Scaff para ser o gerente da empresa na capital. Em Curitiba, Jorge Scaff já tinha escolhido ficar no trabalho e jogar apenas nos finais de semana. Queria trabalhar e divertir-se, sem mexer com futebol. Mas não teve jeito! Certo dia, quando estava na empresa, recebeu a visita de Diolindo Costa, então redator do Jornal Paraná Esportivo, que na época era o grande veículo de divulgação dos clubes do Paraná, com reportagens, fotos, entrevistas com atletas e técnicos de todo Estado. Diolindo era de Londrina e estava trabalhando em Curitiba. O repórter fez uma matéria especial, informando que Jorge Scaff estava morando e trabalhando em Curitiba. Como, um mês antes, Jorge Scaff havia jogado contra o Coritiba no VGD, defendendo o São Paulo,
dirigentes do Coritiba tentaram contratá-lo. "Não aceitei. Não queria mais jogar futebol, queria apenas, sem compromisso, jogar nos finais de semana somente para lazer. Tinha 25 anos já, casamento marcado para o fim do ano e preocupado apenas em cuidar da vida", avaliou "seu" Jorge.

Mas neste mesmo ano, os irmâos Ironi e Itazir, que jogaram no Café de Londrina falaram com a diretoria do Brithânia, antigo clube de Curitiba, hojke Atlético Paranaense, que fez o convite a Jorge Scaff. Apaixonado pelo futebol, no início ele não aceitou, mas com a pressão dos amigos de Londrina resolveu aceitar, se ele pudesse jogar e trabalhar ao mesmo tempo. Foi ewntão que Jorge Scaff estreiou pelo Brithânia no campeonato paranaense de 1954.
Seu Jorge treinava apenas duas vezes por semana, com autorização de Antônio Nakashi. Jogar só nos finais de semana. Trabalhava na empresa como gerente e disputava a Divisão Especial do Paranaense, a primeira divisão. Sua estréia foi contra o famoso e antiguíssimo Bloco Morgenou, extinto clube da capital. Perguntou ao seu Jorge qual foi o resultado da partida e ele respondeu: "Foi 3 x 3!" Então, reforcei a pergunta: - Mas o senhor fez algum gol? Ele respondeu: - "Os três!. Olha Xará, não é papo-furado, tenho tudo aqui, documentado nos jornais da época!".
Nunca duvidei, pois por onde passou Jorge Scaff sempre foi artilheiro, um marcador nato, com presença de área e ótimo finalizador.

Na segunda partida, defendendo o Brithânia, Jorge Scaff enfrentou o Atlético Paranaense, em partida realizada no Estádio Dorival de Brito e Silva, O estádio da Vila Capanema. Outro jogão de bola! O Atlético era o líder invicto do Estadual, com uma equipe fortíssima na época. "O Atlético fez uma ótima exibição, mas nosso time era bem montado, tinhamos uma defesa forte e um meio que marcava e jogava. Vencemos o Atlético por 5 x 3", conta "seu" Jorge, que novamente marcou três gols. Os dirigentes elogiavam muito o comportamento de Jorge Scaff dentro e fora de campo. Era diferente dos jogadores da época. Sempre amigo, profissional, orientador e falava pouco, mas quando expressava sua opinião, tinha sempre um jeito de proporcionar ao time motivação, elogios, passava confiança ao grupo e recebeia o respeito de todos.

Com dois jogos, Jorge Scaff já havia marcado seis gols. E vejam! Ele treinava apenas duas vezes por semana. Após seis partidas, a diretoria do Brithânia demitiu o treinador, que teve problemas após dicussão com um dirigente do clube. Foi então nova surpresa para Jorge Scaff, convidado pela diretoria para assumir o comando do time. Além de jogar, Jorge Scaff seria o técnico do grupo para o restante do paranaense.

Após dois anos como técnico e jogador do Brithânia, Jorge Scaff foi comprado pelo Atlético Paranaense. Passou efetivamente a trabalhar com futebol. O Atlético tinha um jogador chamado Betine e ofereceu em troca por Jorge Scaff ao Brithânia e ainda mais 20 mil cruzeiros. Foi então que deixou a empresa do Antonio Nakashi. Nesta época, Nelson Filpo Nunes era o técnico do Atlético e o responsável pela contratação de Jorge Scaff. "Seu" Jorge ficou no Atlético nos anos de 1956, 57 e 58. Conquistou vários títulos e na saída de Filpo Nunes, assumiu o comando e foi também no Atlético técnico e jogador. Foram quatro anos em Curitiba e um sucesso nas duas funções.

DE VOLTA À LONDRINA

Em 1958, Jorge Scaff pediu a diretoria do Brithânia que o liberasse, pois queria retornar para Londrina e não queria mais jogar futebol. Tinha apenas 27 anos, e era fiscal da receita estadual. "Pasei no concurso da Receita Estadual e retonei para trabalhar aqui na cidade. Queria a partir daquele ano me dedicar mais a família".




AS HISTÓRIAS DE JORGE SCAFF!

DEU O PASSE
Quando Jorge Scaff retornou do Atlético em 1958, parou de jogar futebol profissional. A partir deste ano passou a ser técnico e dirigente. "Nunca mais voltei para pegar meus documentos. Meu passe pertence ao Atlético até hoje. Nunca voltei lá para pegar".
Em ação com a camisa do Atlético. Jorge Scaff é o último do lado esquerdo!

HONREM A CAMISA DO LONDRINA!
"Vivi muitas histórias no futebol. Principalmente no Londrina. Foram muitos anos no futebol amador e profissional e aí colecionamos histórias de todos os tipos e jeitos. Certa vez, quando terminamos um treino no VGD, o roupeiro Ordalino Seixas procurou-me no campo. Os jogadores estavam no vestiário e o comentário era geral, após o treino recreativo de sábado. Os salários estavam atrasados há dois meses e a diretoria fazia "das tripas coração" para arrumar a "grana".

Ordalino chegou meio assustado e falou baixinho, pois tinha por obrigação dar a notícia. Eu era o treinador e nós tínhamos um jogo importante no domingo, diante do Coritiba no VGD. Disse que poderia falar sem medo. Ordalino então informaou o plano dos jogadores. Eles iriam para o vestiário, mas não entrariam em campo se os salários não fossem pagos. Naquela época o VGD lotava, os jogos eram sempre de "casa cheia".

Falei ao roupeiro Ordalino que não comentasse nada com jogadores. Deixei a situação do jeito que estava. No dia seguinte, uma hora antes da partida, entrei no vestiário. Os jogadores estavam se preparando para colocar o uniforme. Naquele época, eu tinha um costume, que carreguei por muitos anos. Gostava de entregar a camisa pessoalmente, na mão. De mão em mão eu entregava a camisa de jogo para cada jogador e tinha uma frase: "Honra essa camisa! Ela é o seu ganha pão! Com a camisa do Londrina não se brinca, pois é um manto sagrado e um privilégio para quem a veste". Assim eu procurava motivar ainda mais o elenco. Fiz isso sempre! Pedia o maior empenho possível à todos!

Mas naquele dia, percebi o vestiário mudo. O clima estranho! Mas já sabia o motivo. Foi então que, faltando apenas 30 minutos para o jogo, recolhi as camisas. Coloquei sobre a mesa e avisei a todos no vestiário: - "Aqui estão as camisas do Londrina! Do goleiro ao número 16! Quem for homem o suficiente, para subir as escadas, entrar em campo e honrar o nome dessa cidade, pega a sua e joga! Quem não for homem pode ir embora! Assim fiz e sai do vestiário. Subi para o gramado. Quando retornei, todos estavam trocados e rezando! Entramos em campo e derrotamos o Coritiba por 3 a 1.


A VIAGEM À PRUDENTE
O presidente Carlos Antonio Franquello foi um dos mais polêmicos presidentes do Londrina Esporte Clube na década de 60! Franquello sempre foi arrojado e destemido dirigente, que brigava pelo Tubarão em todos os momentos! Certa vez, Franquelo, Jorge Scaff e Murillo Zamboni foram a Presidente Prudente contratar três reforços da Prudentina para o Londrina, reforços nas disputas do campeonato paranaense.

Na chegada ao clube paulista, Franquello e Zamboni conversavam com os dirigentes da Prudentina quando Jorge Scaff, observava o treinamento coletivo da equipe lá embaixo no gramado. A sede da Prudentina ficava no alto do estádio. "Seu" Jorge desceu as margens do alambrado e se misturou aos torcedores que estavam por ali. Certo momento, observando um volante que marcava forte e jogava muito bem, perguntou ao torcedor. Quem é esse negrinho aí, do meio campo? O torcedor respondeu: - É reserva! Não joga no time não! Nem sei o nome!

Jorge Scaff ficou por ali e após meia hora retornou a sede, onde a negociação para contratar o lateral direito Osvaldinho, o lateral esquerdo Vicente e o zagueiro Silva, estava em andamento. Como a Prudentina não queria liberar o Silva, Jorge Scaff interrompeu e disse que preferia levar aquele negrino, magro, que estava no treino. O diretor da Prudentina sorriu e falou: - "Não! Aquele vocês não vou aproveitar. Ele é reserva do treino. Fraco, só entra para completar o treino e é do time amador".

"Seu" Jorge insistiu e o diretor aceitou. Passaram na casa do volante, que fez as malas e veio para Londrina. Disputou o paranaense e jogou no Londrina oito meses, depois foi transferido para o Corinthians, atuando de lateral direito no "Timão". "Esse volante, que a Prudentina não queria utilizar e eu trouxe para Londrina é o famoso Lidú, que foi um dos princiapais jogadores do Londrina e que depois atuou no Corinthians. Um ótimo jogador, que marcava e jogava como poucos", avaliou Jorge Scaff. Lidú morreu em uma acidente de carro, anos depois, quando ainda era jogador do Corinthians.



NA CALADA DA NOITE!
Gauchinho é um dos principais ídolos do Londrina até hoje! Gauchinho, comandou o Londrina no título de 1962 e é o maior artilheiro na história do Londrina EC com 217 gols marcados. Amigo inseparávbel de Jorge Scaff. Mas para contratar Gauchinho não foi fácil. Naquela época, além da rivalidade entre os clubes, a paixão movia torcedores, dirigentes e jogadores também. "Tanto é que clubes mantinha os atletas até 12, 13 anos no no plantel. Jogavam com amor à camisa! Hoje, os jogadores chegam a fazer quatro ou cinco jogos e já deixam o clube, transferindo-se para o rival, e chegam beijando o escudo", diz Jorge Scaff.

Mas Jorge Scaff sabia dessa rivalidade e tomava todas as pecauções. Gauchinho era o ídolo do Nacional de Rolândia e um grande artilheiro. Para contratá-lo, Jorge Scaff e o diretor de futebol Walter Roscler, o Chulipa, sairam de Londrina por volta de onze meia da noite e marcaram o econtro com o jogador Gauchinho em Rolândia. No outro dia, assim que saiu o sol, o atacante já estava no VGD para o primeiro treino. "Fomos de madrugada para Rolândia. Os dirigentes lá estavam "ariscos" e sabiam do nosso interesse pelo jogador. Sem ninguém perceber, buscamos Gauchinho, que nos deu o título de 62 e foi um dos principais jogadores da época. Além de Gauchinho trouxemos o goleiro Zuza e o ponta Eni de Rolândia", confirmou Jorge Scaff.

GAUCHINHO E JORGE SCAFF

Os dois são grandes amigos até hoje! Fizeram do futebol a maior amizade daquele time de 62. O técnico que mais vezes assumiu o Londrina com o maior artilheiro que já atuou no alviceleste. Antenor Bombassaro, o Gauchinho,jogou no Londrina por mais de 10 anos, marcou 303 gols. "Gauchinho é um dos meus melhores amigos. Sempre foi um atacante de uma ótima técnica, bom posicionamente e um artilheiro nato. Até hoje a gente se encontra e relembra aqueles bons tempos do Londrina", confessa Jorge Scaff, que foi o responsável pela vinda de Gauchinho do Nacional de Rolândia para o Londrina.

DISPENSOU TODOS!

Jorge Scaff sempre foi um grande colaborador do Londrina EC. Em 1962, o diretor de futebol Silveira Santos acabara de assumir o departamento de futebol do Londrina e resolveu colocar Jorge Scaff de treinador. Jorge dispensou todo o plantel. Todos ficaram assustados pois o Londrina ficara apenas com Cortez, quarto zagueiro que veio de Santos e o goleiro Zeferino. O restante foi dispensado. Jorge Scaff saiu na região de Londrina, interior de São Paulo e Rio de Janeiro em busca de reforços. Contratou Chinezinho, Jaú, Joãozinho e conquistou o título. "Quando dispensei os jogadores me chamaram de louco. Pessoas da prórpia diretoria não concordavam com a minha decisão. Após o título, todos vieram cumprimentar pela conquista", conta "seu" Jorge.


AGORA SÓ FALTA O TÉCNICO!
A diretoria do Londrina reunia-se às segundas-feiras para tratar de todos os assuntos do departamento de futebol profissional. Em 1962, quando a equipe estava sendo preparada para disputar o paranaense realizava uma de suas melhores pré-temporadas, Jorge Scaff havia assumido o comando técnico e estava colhendo ótimos resultados. Vitória diante da Ferroviária por 3 a 1. Na estréia uma grande vitória diante do Grêmio Maringá por 4 a 2, vitória também em Campo Mourão na estréia de Chinezinho e um time muito forte. Joge Scaff montou esta equipe que tinha ainda craques como: Leocádio, Sagui, Gauchinho, Alex, Osvaldinho, Leônidas e etc.

Todos concordavam que não havia motivo para modificações. Durante a reunião, em clima de otimismo e euforia, o diretor de futebol Sivio Bussadori disse: "Agora que temos um bom plantel, só falta um técnico", disse. Houve um silêncio na sala de reuniões. Todos ficaram constrangidos, pois Jorge Scaff estava dirigindo a equipe e presente na reunião, mas a intenção de Silvio não era tirar Jorge Scaff e deixou escapar a frase sem perceber que Jorge Scaff estava presente. Ele também ficou chateado.

Inteligente e agregador, mais tarde Jorge Scaff tomou a palavra e falou na reunião: "Não quero mais ser o técnico e amanhã mesmo o Londrina terá esse treinador que vocês desejam". No dia seguinte, Jorge Scaff viajou para Araraquara e contratou Floreal Garro, que assumiu o comando da equipe e Scaff continuou como colaborador. O Londrina foi o grande campeão de 62 com Floreal Garro e os méritos também para "seu" Jorge.


EM SANTOS TEM GERMANO
Naquele época Jorge Scaff e Franquello foram a Santos tentar alguns reforços na Vila Belmiro. Chegaram cansados da viagem, pegaram uma pensão e no outro dia bem cedo foram ver o treino do time da "Vila mais famosa do mundo"! Tentaram sem sucesso e não tinha nenhum jogador em condições de contratação. Estavam muito valorizados em fnção do excelente time do Santos na época. Franquello olhou para Jorge Scaff e disse: -"Não posso voltar para Londrina sem contratar um jogador. Passamos por São Paulo, viemos a Santos e retornar sem ninguém. Não! Vamos levar um jogador".

Pararam em um campo de várzea e ficaram observando uma pelada de garotos. Logo viram destacar-se um meia armador de boa qualidade e ótima finalização. Foram até o rapaz e perguntaram o nome dele. Ele disse: - "Amado! Franquello logo falou: Amado? Amado não é nome de jogador! Seu nome a partir de agora será Germano"! Na quela época, o Santos tinha um atacante chamado Germano, um bom jogador, que estava sendo negociado com o Corinthians. Na chegada à Londrina é apresentado Germano do Santos para reforçar o Tubarão! Foi uma festa! O rapaz jogou a primeira partida e logo na estréia marcou um gol! A torcida vibrou!!! "A partir desse jogo ele não fez mais nada. Foi pura sorte marcar aquele gol e em seguida foi dispensado", contou Jorge Scaff.

"SEM FAZ-ME RIR" CONTRA O "NÃO ESPANHA"
Naquele polêmico e controvertido jogo em que o Atlético goleou o Londrina por 5 a 1 no VGD, os salários e bichos da equipe alviceleste estavam atrasados e Pinduca gritava para quem quisesse ouvir que "sem o faz-me rir" não jogava O "sem faz-me rir" contra o "não espalha".

O Londrina ainda não havia sido batizado “Tubarão”, mas o Clube Atlético Paranaense já era “Furacão.” E arrasava os adversários. Que o diga o então “Caçula Gigante”, como era tratado o Londrina na época, que teve a desdita de topar com o “Furacão” numa tarde em que o atacante Zé Roberto “só não fez chover no VGD” como costumam dizer os torcedores do LEC ao se lembrar daquele jogo em que o polêmico e controvertido craque fez três gols na goleada de 5 a 1 do Atlético sobre o Londrina.

E olhe que o goleiro do time era nada mais, nada menos do que o Ado, jogador revelado no futebol amador da cidade e que viria a ser tricampeão do mundo em 1970, no México, com a Seleção Brasileira. Mas, naquele dia em que o Londrina não viu a cor da bola, num VGD (Estádio Vitorino Gonçalves Dias) entupido de gente, não havia goleiro que pudesse evitar tamanho vexame.

Mesmo goleado, não se pode dizer que o time do Londrina fosse ruim, pelo contrário, pois, se do lado do Atlético, treinado por Sidnei Cotrim, além de Zé Roberto, tinha Muca, Pardal, Beline (bicampeão do mundo - 1958/1962 - com a Seleção Brasileira) e Gilberto; Jair Henrique e Paulista; Dorval - famoso ponta direita do arrasador ataque do Santos dos anos de 1960 - Milton Dias e Nilson, na equipe londrinense, treinada por Jorge Scaff, além do goleiro Ado, jogavam Dobrew, Zequinha, Pinduca e Tomás; Lidu e Capitão; Varlei, Gauchinho, Almeida e Reginaldo.

E, se os maiores talentos dessa equipe eram o zagueiro Zequinha, os meio-campistas Lidu e Capitão e o centroavante Gauchinho, havia um jogador, o quarto-zagueiro Pinduca que, se por um lado, assustava os atacantes adversários com suas botinadas, por outro alegrava os companheiros com suas gírias e metáforas engraçadas.

Voltando ao jogo, teve até gol de placa de Zé Roberto: um “chapéu” no goleiro Ado que nada pode fazer a não ser ver a rede alviceleste balançar e o hábil atacante correr para provocar a torcida fazendo o tradicional gesto de por o dedo indicador nos lábios fechados, um cala a boca para aqueles que, minutos antes, o haviam brindado com gritos de “maconheiro, maconheiro...!”

Mas, fora a merecida goleada sofrida naquele 12 de maio de 1968, um fato acontecido momentos antes do jogo, entrou para o folclore do futebol local. Para variar, como hoje, os salários e os bichos dos jogadores estavam atrasados. Inconformado, duro e sem papas na língua, o folclórico Pinduca chegou ao VGD falando alto pra quem quisesse ouvir com seu linguajar peculiar:

“Não tem papo, sem faz-me rir eu não jogo!” Falou e já gritou para Nenê, jovem jogador prata da casa, que também tinha o apelido de “Cueca”: “`Cueca-, fique aquecido que com cinco minutos de jogo vai me dar uma distensão; você é filho da cidade, mora na casa do papai, a cidade é sua, pode jogar de graça, mas o negão aqui não joga sem faz-me rir!”

“Qual é, negão, quer me jogar numa fria?”, reagiu Nenê, enquanto Pinduca repetia que sem dinheiro, ou melhor, “sem faz-me rir” ele não jogava. E não deu outra: com cinco minutos de jogo, bem ao seu estilo, deu um “carrinho” de três metros em Dorval que jogou o ponta direita com bola e tudo pela lateral. Porém, surpresa geral, enquanto o ponteiro se levantava ileso, quem ficou deitado foi Pinduca que, com a mão na coxa direita, dava claro sinal de que sofrera uma distensão. Saiu carregado. Nenê entrou no seu lugar.

Como o jovem jogador previa, foi a maior fria. Não que ele tenha sido o culpado pelos gols sofridos, nada disso, naquela tarde, nem ele, nem Pinduca, nem ninguém conseguiria segurar Zé Roberto que, depois do jogo, saindo do vestiário, ouviu novamente o grito - “Zé Roberto maconheiro!” - que já ouvira em campo.

Sem se irritar, o atacante atleticano pos o dedo indicador na boca, fez um “psiu” entre dentes, e devolveu bem humorado: “Não espalha, compadre, quer me complicar, olha os `home- aí!” Quem viu diz que até os policiais que faziam a segurança dos jogadores atleticanos deram risada. (Por Apollo Theodoro)

ZAMBONI FAZENDEIRO
Carlos Antonio Franquello, folclórico ex-presidente do Londrina e o diretor de futebol na época, Murilo Zamboni, já falecido, foram á Presidente Prudente, interior de São Paulo contratar dois jogadores do Corinthians de Prudente: Castilho e Robertinho. Na chegada tudo estava combinado! Franquello foi recebido pelo presidente do clube paulista e as negociações comecaram. Zamboni não estava na reunião, foi dar uma "voltinha" na cidade. Pouco mais de meia hora, Zamboni aparece, de botas até o joelho e com um chapéu de abas largas.

Franquello cumprimenta Zamboni e se mostra surpreso com o encontro: - O "seu" Zamboni, como vai coronel!? E em seguida apresentou Zamboni ao presidente do Corinthians. O presidente conheceu o então "fazendeiro" londrinense que tinha muitas terras e gado na região de Prudente e Araçatuba. Só faltava um fiador para fechar a negociação com o clube paulista, que aceitou Zamboni de fiador na hora!
O Londrina levou Castilho e Robertinho e o "Corinthinha" dançou!


JOGO DO SANTOS NO VGD
Moacir Rodrigues era técnico do Londrina quando a diretoria confirmou um amistoso entre Londrina x Santos para o VGD. O Santos tinha aquele time que "jogava por música". A escalação que o Brasil e o mundo conheçe.
Duas semanas antes do jogo, o Tubarão jogou uma partida amistosa e foi goleada por 8 a 0. A diretoria demitiu Moacir Rodrigues e Jorge Scaff assumiu o comando do alviceleste.

O Santos estava realizando vários amistosos em todos o Brasil. Venceu o Botafogo no auge por 6 a 0, o Grêmio Maringá por 11 a 1, e outras goleadas no interior de São Paulo. A equipe santista tinha o Rei do futebol no seu melhor momento e lotava os estádios. Jorge Scaff reuniu os jogadores e começou a montar um esquema de jogo para não ser goleado. Treinava o Londrina com quatro zagueiros de área, na frente da defesa, fechando todas as possibilidades do ataque formado por Durval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Abel, pois apenas Pepe não veio para Londrina.

Após um treino, o presidente Franquello marcou uma reunião com a diretoria e com Jorge Scaff. No meio da reunião, o seu Gilberto, então motorista do ônibus do londrina, entrou na sala e falou no ouvido do presidente: - A rapaziada está no Hotel seu Franquello! Jorge Scaff, que não entendeu nada, perguntou ao presidente, que rapaziada estaria no hotel! Franquello confirmou que pegara quatro jogadores emprestados do Marília para enfrentar o Santos, reforçando o time.

"Seu" Jorge não falou nada e foi para casa. No dia seguinte, marcou o treino para ás oito da manhã e pediu para o motorista pegar os jogadores que vieram de Marília (Edil, Silvano, Gigio e Jurandir) ás 09 horas. Jorge Scaff reuniu os jogadores no gramado e passou o recado. - Olha o presidente trouxe aí quatro jogadores de Marília, mas não se preocupem, pois vocês vão jogar. O time é o que vem treinando. Fiquem tranquilos! Como eles confiavam em Jorge Scaff, foram para o treino quando os quatro chegaram a foram para os vestiários e depois para o campo.

No dia seguinte o VGD já estava lotado. Era o dia do jogo. Todos os ingressos foram vendidos e a cidade vivia a grande expectativa da vinda de Pelé e cia. A diretoria resolveu então colocar cadeiras de pista atrás dos gols e nas lateras. VGD totalmente lotado e prognóstico de goleada para o Santos. No vestiário, Jorge Scaff define o time, mas não solta a escalação. Foi um "reboliço", pois todos da imprensa queriam a escalação do Londrina que enfrentaria o Santos de Pelé. Ao entrar em campo, Jorge Scaff solta a escalação com os paulistas de Marília no banco.

Foi um corre-corre nas arquibancadas e lá vem Franquello querendo explicações de Jorge Scaff. - Por que os meninos de Marília estão fora? Jorge Scaff respondeu: -Por que o técnico sou eu e não você! Franquello queria morrer. Jorge Scaff ameaçou sair de campo. Eu saio e o senhor assume o time agora! Disse.
O jogo começou com a formação de Jorge Scaff. Resultado final, vitória do Santos por 2 a 1, mesmo por que Pelé, que iria jogar apenas o primeiro tempo, saiu de campo aos 30 so segundo tempo, depois que o Santos marcou o segundo gol.


A DECEPÇÃO
Jorge Scaff está na história do Londrina Esporte Clube. Foi ele o responsável por assumir nos piores momentos. "Quando demitiam um treinador, eu sempre foi o primeiro nome a ser lembrado e chamado. Nunca neguei o convite! Sempre fiz minha parte como torcedor e apaixonado por este clube. Assumi o Londrina muitas vezes e acertava a situação, quando "a coisa tava boa" a diretoria contratava outro. Quando a "casa caia" lembravam novamente do Jorge Scaff", conta seu Jorge, que sorrindo, nunca ficou bronqueado por isso. Ele sempre esteve e está á disposição do Londrina.

Jorge Scaff resolveu deixar de ser técnico de futebol quando foi surpreendido em uma manhã de domingo com um telefonema. Todos os domingos, em dias de jogos em Londrina, Jorge Scaff deixava a concentração do Tubarão, que na época era no então Hotel Tóquio, dirigindo-se para a Catedral, onde assistia as missas.

Naquele domingo o Londrina enfrentaria o Atlético Paranaense no VGD. Ao retornar ao Hotel Tóquio, recebeu uma ligação em seu quarto. "Atendi o telefone e uma pessoa que não quis identificar-se, apenas disse que era um amigo e torcedor do Londrina.
Eu recusei continuar a conversa e a pessoa insistiu que tinha um recado importante. Então perguntei que recado ele tinha. Ele pediu para não colocar dois do jogadores do Londrina em campo. Eu reaji e disse que se ele se identificasse poderia até atender o pedido dele, mas ele apenas dizia ser um amigo. (Não vou citar os nomes dos jogadores), Ele insistiu e eu desliguei o telefone", conta seu Jorge.

Uma hora depois a mesma pessoa volta a telefonar no hotel, e novamente faz o pedido: "Ele disse para não colocar no jogo fulano e ciclano! Estou avisando! Eu pedi para que ele se identificasse, então poderia pensar no caso", relatou "seu" Jorge. Naquele dia "seu" Jorge ficou muito chateado. "Na chegada da delegação ao VGD observei as pessoas que se aproximavam para cumprimentar, desejar boa sorte, tentei de todas as maneiras identificar quem poderia ter ligado no hotel, mas não deu. Então desci ao vestiário e fiz a última preleção, pedi empenho ao time, motivei os jogadores, afinal o Londrina precisava da vitória e era uma partida importante para a sequência do campeonato. Escalei o time com os dois jogadores citados. Muitas coisas passaram pela minha cabeça, mas não poderia aceitar a opinião de um estranho, que não quis identificar-se. Passei a observar os dois em campo. Com 15 minutos de jogo o Londrina perdia por 4 x 0. Tirei os dois aos 16 minutos. Perdemos para o Atlético por 5 a 1. Na segunda-feira de manhã fui na sede do Londrina e pedi para sair. A partir daquele dia nunca mais quis ser técnico de futebol". relatou Jorge Scaff.

O TÉCNICO QUE MAIS VEZES COMANDOU O LONDRINA EC

Jorge Scaff dirigiu o Londrina 8 vezes. Foi o técnico que ficou mais tempo no cargo e tem este récord até hoje. Foram 34 meses, 10 de março de 1960 a 12 de agosto de 1968.

A primeira vez: 10.03.1960 à 19.19.1961 - 07 meses.
34 Jogos - 19 Vitórias - 06 Empates -= 09 Derrotas.

A segunda vez: 03.09.1961 à 24.06.1962 - 09 meses.
59 jogos - 34 Vitórias - 14 Empates - 11 Derrotas.

A terceira vez: 18.09.1966 `{a 07.02.1968 - 17 meses.
60 jogos - 22 Vitórias - 23 Empates - 15 Derrotas.

A quarta vez: 14.04.1968 à 12.08.1968 - 01 mês.
05 jogos - 01 Vitória - 02 Empates - 02 Derrotas.





As outras quatro vezes que dirigiu o Londrina, Jorge Scaff não tem as anotações de datas e resultados. "Estas anotações eu ganhei do amigo Ayres Félix Rodrigues, que tem tudo sobre o Londrina. Ele anatava todos os resultados, escalações. O Ayres meu cabeleleiro é um grande amigo, torcedor fanático, mas de um certo tempo também ficou desanimado e parou de anotar. As outras quatro vezes foram perídos bem curtos", conta Jorge Scaff.

Foram 158 jogos sob seu comando, com 76 vitórias, 45 empates e 37 derrotas em 34 meses, praticamente três anos no comando técnico no Londrina EC. Uma marca insepurável até hoje.


A VIDA POLÍTICA DE JORGE SCAFF



Jorge Scaff então, ingressou na vida pública e filiou-se a ARENA - Aliança de Renovação Nacional."Naquela época do Regime Militar, a Lei Falcão estabelecia a existência de apenas duas legendas: ARENA ( Aliança Renovadora Nacional ) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro ). Só em 1980, o pluripartidarismo foi legalizado novamente, e a ARENA foi rebatizada de Partido Democrático Social (PDS), mais tarde, o PDS se tornou o Partido Progressista Renovador (PPR), depois o Partido Progressista Brasileiro (PPB) e hoje se chama Partido Progressista (PP), conta seu Jorge.




Jorge Scaff foi presidente da Arena durante seis anos e estabeleceu uma força política na cidade para defender os direitos e melhorias no esporte. Seu sonho maior era ver o Londrina EC no campeonato Nacional. Eleito vereador em 1972, assumiu a cadeira na Câmara em 1973 e deu início a um pedido especial ao prefeito José Richa, quando oficilizou o pedido para a construção do Estádio do Café, que daria totais condições do Londrina disputar o campeonato brasileiro.

Como vereador e desportista, Jorge Scaff sempre lutou pelo esporte na Câmara de Vereadores. "Naquele tempo, anos 60 e meados de 70, a cultura do café era principal responsável pelo desenvolvimento de Londrina. A cidade era conhecida como a Capital Mundial do Café, numa época em que no nosso aeroporto circulavam cerca de 200 aviões por dia. Para ver o Londrina em campo, vinha torcedores de toda a região e o estádio VGD, era pequeno. Pela Câmara, fiz um pedido oficial através de um projeto de lei, solicitando a construção de um estádio maior, que pudesse receber mais público e dar possibilidades ao Londrina EC de disputar o campeonato brasileiro. Tenho orgulho de ser o vereador que fez o pedido ao prefeito para construção do Estádio, que passou a ser chamado de Estádio do Café", contou seu Jorge

O Estádio do Café, foi construído às pressas para o Londrina Esporte Clube entrar no grupo de elite do futebol brasileiro. Foi erguido durante a gestão do ex-prefeito José Richa e sua construção foi supervisionada pelo então secretário de obras e engenheiro Wilson Rodrigues Moreira. A inauguração do estádio foi no dia 22 de agosto de 1976 com o Londrina enfrentando o Flamengo de Zico. O primeiro gol do estádio foi anotado pelo jogador Paraná. Oficialmente o Estádio do Café leva o nome do ex-presidente do Londrina Esporte Clube, já falecido, Jacy Scaff, irmão mais velho de Jorge Scaff.


GRÊMIO LONDRINENSE

O Grêmio Literário e recreativo Londrinense começou com cerca de 150 sócios e em 1952, o clube inaugurou a sua sede na Alameda Manoel Ribas, através da colaboração do governo do Paraná. O quarteirão onde está localizado o prédio da antiga sede, entre a Avenida Rio de Janeiro, Piauí e Souza Noves, deve ser tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual por sua importância histórica e arquitetônica.

Os bailes de carnaval que aconteciam na sede do Grêmio se tornaram famosos e muitas pessoas que brincavam os quatro dias de folia ainda se lembram com saudades daquela época. Atualmente, todas as atividades do clube são realizadas em sua sede campestre, construída numa área com cerca de 05 alqueires, contando com uma das maiores infra-estruturas de lazer da região.
Em 1978, "seu" Jorge foi eleito presidente do Grêmio Literário e Recreativo Londrinense. Antes, Jorge Scaff havia ocupado o cargo de presidente do Conselho Deliberativo e foi presidente executivo durante 23 anos, de 1978 até o ano 2.000. Não há registros de um período maior do que o de Jorge Scaff, que foi o presidente que ficou mais tempo na direção de um clube social e esportivo do Brasil.

"Quando assumi a presidência do Grêmio alí não tinha quase nada. Na sede social do centro aumentei mais dois andares e ampliamos as salas. Construi quase tudo. Salão social, restaurante, sauna e a parte administrativa. Inaugurei o parque aquático com oito piscinas em 1981, foi uma grande festa, o clube ficou totalmente lotado".

Jorge Scaff é apaixonado pelo Grêmio e foi lá que pode executar o que mais gostava de fazer: Amigos e esporte! "Era o lugar onde eu podia conversar com todos. Todos os dias eu estava lá, durante anos, conversando, ouvindo o associado e melhorando as condições do nosso clube. Tive muitos bons diretores que me ajudaram muito. Sou grato á todos eles".


A sede campestre ganhou muito na administração do "seu" Jorge. Ele iniciou as negociações para comprar mais 5 alqueires, que pertenciam ao Sr. Tupã, onde na época era o Clube de Caça e Tiro de Londrina. "Quando eu assumi o Grêmio, a sede campestre tinha apenas um vestiário, um barzinho, duas piscinas pequenas, o restaurante e um salão. Passamos a construir então os campos de futebol, as quadras de tênis e fomos ampliando as melhorias e colocando mais sócios", destacou Scaff.
Na gestão de Jorge Scaff ele construiu no Grêmio um párque aquático com oito piscinas, Ginásio de esportes com duas quadras poliesportivas com setor administrativo, espaços para academia, salas de enfermaria, quadras de tênis e ainda cinco campos de futebol suiço, restaurante e salão social.


"Na época o Grêmio chegou a ter 6 mil sócios, sendo o segundo maior clube social do Paraná. Promovemos os melhores bailes da cidade, onde reuníamos mais de 5 mil pessoas, nas festas do Chopp, Noites tropicais, Bailes de Carnaval! O Grêmio sempre foi uma referência em toda a cidade e no norte do Paraná", conta seu Jorge.


O BASQUETE DE LONDRINA!
Nas modalidades esportivos o Grêmio sempre foi destaque e é até hoje. Desde as categorias de base e adulto, tanto na categoria masculino como feminino. O Grêmio sempre teve a tradição de disputar todas as categorias nas competiçães de futsal e outras modalidades.

Jorge Scaff também fez história no basquete. Nos últimos anos de sua gestão no Grêmio foi vice-campeão brasileiro de basquete masculino com a equipe do Grêmio Londrina, que ganhou a vaga para a disputa da Série A, passando por grandes clubes brasileiros de basquete. Chegou a Liga "A" ao lado do mais tradicional clube do Brasil, que é o Franca Basquetebol. Com o Grêmio na primeira divisão, "seu" Jorge chegou ao delírio e quase morreu num jogo realizado em 31 de Abril de 1999. "Aquele jogo ficou para a história do basquete brasileiro. Foi muito emocionante! Quando acabou o jogo e vencemos o time do Oscar, a vibração de mais de 12 mil pessoas no Moringão nos contagiou! A torcida invadiu e todos me abraçavam. Passei mal, a pressão foi a mil! Mas a alegria foi enorme! Vimos Londrina num jogo história vencer por dois pontos e chegar a uma partida da classificação entre os quatro melhores do Brasil", contou emocionado "seu" Jorge. Naquele jogo, Oscar parecia não acreditar e a cidade de Londrina entrou definitivamente para a História do Basquete brasileiro, como referência do sul do Brasil com o Grêmio Londrinense e Jorge Scaff.


A GRANDE DECEPÇÃO!
Seu Jorge Scaff conta ainda que dois dias depois ele teve a grande decepção com o basquete. Foi em São Paulo. "Precisamos ganhar do Mackensie de Oscar em São Paulo, dois dias depois. No dia 02 de Maio, no Ginásio do palmeiras. Lotamos seis ônibus e lá fomos nós em busca da vaga! A diretoria do clube paulistano não queria deixar nossa torcida entrar no Ginásio, foi então que fui até o representante da Confederação Brasileira de Basquetebol e disse que se nossa torcida não entrasse, que eu tiraria o time de quadra e do campeonato! Eles, após muita confusão, deixaram nossos torcedores entrar. Fizemos outra apresentação perfeita. Vencemos o jogo por 2 pontos, mas Oscar deu um murro na mesa de controle e reclamou do placar. Oscar afirmou que o cronômetro não havia sido parado para reposição de bola em jogo.
Foi outro tumulto! Oscar "conseguiu" com a ajuda da arbitragem á volta do tempo perdido de sete milésimos de segundo. Estávamos com a vitória garantida, pois é impossível fazer uma cesta com esse tempo. Era como se fizesse o passse e acabasse o tempo. Mas a arbitragem segurou o cronômetro e o americano do time do Mackenzie, recebeu a bola, saltou e lançou, fazendo uma cesta de três pontos. Perdemos, com injustiça, por dois pontos. Foi o grande absurdo que vi em 68 anos como desportista. Um vergonha, uma decepção". contou "seu" Jorge.

"Hoje eu lamento que não tenha uma boa equipe na cidade. O Enio Vecchi é um dos melhores técnicos do país e nós perdemos tudo isso. Me orgulho de ter dado essa alegria ao torcedor, de ver o Moringão lotado como vimos, de ver a camisa do Grêmio vencendo o time do Oscar", contou "seu" Jorge bastante emocionado.


JORGE SCAFF PREFEITO

Conversei com seu Jorge Scaff muitas horas, lembramos de muitos fatos do esporte, do futebol, do Londrina e conversamos sobre muitos assuntos. Perguntei então como foi ser prefeito de Londrina. Seu Jorge disse que teve que assumir a prefeitura após a cassação do prefeito Antonio Belinati por que era o presidente da Câmara. O vice-prefeito eleito em 1996, Alex Canziani, havia renunciado em 1999, para assumir uma vaga de deputado na Câmara federal, para qual tinha sido eleito no ano anterior. Com o cargo de prefeito vago, Jorge Scaff - então presidente da Câmara - assumiu o como prefeito de Maio à Dezembro de 2000.

"Foram oito meses como prefeito de Londrina e um período um pouco conturbado, mas fiz o que deveria ter feito. O orçamento já estava definido e naquele período foi justamente quando implantaram a Lei de Responsabilidade Fiscal e isso foi muito bom para que eu tocasse os compromissos emergenciais. Não deixei faltar médicos e remédios nos postos, melhorei a coleta de lixo, mantive o bom desempenho na área de educação e no setor de obras, que tinha investimentos em andamento. Acho que o mais importante nesse curto período foi o pagamento do funcionalismo, que mantive em dia, mesmo com as dificuldades. Tive apoio de todas as secretarias e tratei os funcionários com muito respeito", avaliou Scaff.

Quando perguntei sobre sua saída da prefeitura, na passagem de cargo ao prefeito Nedson em 2001, seu Jorge baixou a cabeça, pensou um pouco e logo ergue-se novamente. Percebi que tinha alguma decepção. Tentando mudar o semblante, seu Jorge Scaff confessou e pediu. "Xará, não precisa citar a pessoa, mas vou te contar. Desci no palco, construído na frente da prefeitura, sem saber para onde eu iria. Ninguém me cumprimentou! Ninguém! Até alguns que estavam o tempo todo do nosso lado, quando eu era o prefeito, estavam todos em volta do que estava assumindo o cargo. Desci, e saí sozinho em direção ao meu carro. Não me importei! Uma pessoa se aproximou e abracou-me e agradeceu. Resolvi deixar a política".
Jorge Scaff ocupou o cargo até 1º de janeiro de 2001, quando o transferiu à Nedson Luiz Micheletti. Após ser prefeito de Londrina, Jorge Scaff deixou a politica, mas ainda é um dos principais conselheiros políticos da cidade.


A MORTE DO FILHO SÉRGIO


O fato que mais abalou a vida de Jorge Scaff nestes oitenta anos foi a perda do filho Sérgio Consolin Scaff. Sérgio era formado em Odontologia e tinha uma vida saudável, era praticante de sporte e jogava pelo menois duas vezes por semana no Grêmio e em outros clubes. Adorova um futebol suiço. Levava uma vida tranquila e de grande evolução social. Era um amante do futebol como o pai e o irmão Fernando. Seu Jorge e Dona Nadir, como toda a família sofreram muito! Sérgio sempre foi muito brincalhão, alegrava a família o tempo todo. "Foi uma morte prematura que a gente nunca acreditava que poderia acontecer com a gente. Temos que aceitar, pois não é nossa vontade. Sinto falta dele, todos os dias, mas não adianta ficar lamentando, temos que aceitar e pronto", finalizou Jorge Scaff.

Sérgio teve câncer no fígado, a família fez de tudo, levando aos melhores especialistas, internações em São Paulo nos melhores hospitais, mas não teve jeito. Sérgio morreu em 12 de Março de 2006, deixando a esposa Cláudia Maria e dois filhos.


FERNANDO SCAFF


Seu Jorge, Dona Nadir, Karla e Fernando acompanhados pelo deputado federal Alex Canziani

Família reunida nos anos 80! Dona Nadir e Sérgio, Jorge Scaff e Fernando, com cinco anos!

O outro filho é Fernando Scaff, também formado em Odontologia, casado e pai de Felipe de cinco anos. "O Fernando é um ótimo filho. Nunca deu nenhum trabalho. É trabalhador e como eu gosta muito de futebol. Os meus netos foram presentes de Deus. Sempre muito bem educados. Tenho o João Henrique que tem 24 anos, já é advogado e o irmão dele, o Luis Gustavo tem 19 anos e já está no terceiro ano de direito. O Fernando tem o Felipe, de cinco. Eles são as alegrias da casa", elogia Jorge Scaff.

O CASAMENTO COM NADIR


"Xará, faz tempo hein"! Brincou seu Jorge quando perguntei a sobre o namoro e o casamento com Dona Nadir. Nesse momento os dois começaram a conversar na mesa. Seu Jorge pediu uma pizza para a nossa conversa continuar. "Xará, de vez em quando eu peço uma pizza. É rapidinho, você quer ver?".

Continuamos a conversa quando Dona Nadir corrigiu seu Jorge. "Não, Jorge, nós nos conhecemos naquele aniversário e você perguntou se eu queria namorar você", Seu Jorge respondeu: "Aniversário? Não, foi lá na casa da sua prima?". Bom, Dona Nadir não esqueceu nem a roupa que eles vestiam na data do convite, em 1953. "Jorge, você era amigo do meu irmão Edgar e nós nos conhecemos num casamento que ocorreu na lá Rua Cuiabá e dois anos depois nós nos casamos.

Seu Jorge então, para não ficar para trás, afirma rapidamente: "Nós casamos no dia 7 de dezembro de 1955, vamos completar este ano 54 anos de casamento", falou Scaff rapidinho para empatar a disputa e fez moral. "É Jorge, isso é verdade", completou Dona Nadir. Seu Jorge respondeu: "Mas que você me pediu em namoro naquele casamento, pediu". Dona Nadir completou: "Jorge, foi sim, no casamento da minha prima".
Os dois estavam certos e a comemoração foi em seguida, com a chegada da pizza quentinha.

"Sempre agradeço à Deus pelo meu casamento e minha família. A Nadir sempre foi uma grande companheira. São 54 anos de um ótimo relacionamento, harmonia e respeito. Mesmo com os compromissos com futebol, na política sempre coloquei a família em primeiro lugar. Acho que isso foi fundamental", declarou seu Jorge.

"O Jorge sempre fez o que ele quis. Nunca o privei de nada. Se era o que ele gostava eu apoiava. Eu sempre estive do lado dele para tudo", disse Dona Nadir Scaff.



COMENTARISTA ESPORTIVO

Jorge Scaff deixou o futebol como técnico e foi convidado para ser comentarista esportivo de rádio. Aceitou, pois não conseguia ficar longe da bola. Foi comentarista das Rádios Paiquerê e Tabajara de Londrina. Na Rádio Tabajara foi comentarista da equipe Jovem que tinha o comando de Amarildo Lopes e Amaury Tirapelli. Carlos Martins era o narrador. Jorge Scaff trabalhou ainda com os repórtes Barbosa Neto, hoje prefeito de Londrina, Gélson Negrão, hoje na Rede Massa, França Nery e comigo também.

Ele participava do Programa Esportivo ás 18 horas e tinha uma legião de fãs que gostavam muito de ouvir a opinião de quem foi campeão dentro e fora de campo como jogador, técnico e dirigente. "Entre os jogos mais importantes eu comentei a decisão entre Santos e Milan, do Mundial Interclubes, no maracanã, na vitória do Santos por 1 a 0, gol de Dalmo. Brasil x Chile pela Rádio Tabajara, Brasil e Tchekoslováquia em Uberlândia", contou Jorge Scaff.

LIVRO - JORGE SCAFF - O Legado de Um Artilheiro -
Início Fevereiro de 2009
Publicação e Lançamento - Setembro de 2009.

Escrito por Jorge Júnior.
Relatos de Jorge Scaff

Correção ortográfica: Professora Edina Panichi
Fotos: Arquivo Pessoal da Família Scaff.
Tiragem: 1.000 exemplares.